quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A rotina presidencial


Por: Sergio Lirio
Dilma tem chegado ao Planalto por volta das 9 da manhã. Antes, na Granja do Torto, onde vive provisoriamente com a mãe, Dilma Jane, enquanto Lula desocupa o Palácio da Alvorada, caminha e lê os jornais. Entre as 9 e as 10 da manhã despacha com os assessores mais próximos: Giles de Azevedo, seu chefe de gabinete, e os ministros Helena Chagas, da Secretaria da Comunicação, e Antonio Palocci, da Casa Civil. É a hora de discutir o noticiário e preparar a agenda do dia.

E haja assunto. Em cinco dias, Dilma teve de lidar com a insaciável fome do PMDB, em disputa por espaço com o PT, e o conhecido jogo dos mercados financeiros, disposto a testar a credibilidade da equipe econômica logo nas primeiras horas. Nada tirou seu bom humor até agora, exceto as declarações do general José Elito Siqueira, do Gabinete de Segurança Institucional (reportagem à pág. 34). Em sua posse, instigado por um repórter da Folha de S.Paulo, disse que o Brasil não precisaria se envergonhar por ainda existirem desaparecidos políticos da época da ditadura. Em consequência, entra para a história como o primeiro ministro a receber uma reprimenda da presidenta. Siqueira pediu desculpas e disse ter sido mal interpretado.
A presidenta optou, na primeira semana, por almoçar no Planalto, mas não fez do momento um horário de trabalho. Não há uma dieta especial – ela tem tentado compensar os quilos ganhos durante a campanha com as caminhadas matutinas. Além de Palocci e Helena Chagas, os ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Míriam Belchior, do Planejamento, são figuras constantes em seu gabinete. Sua jornada de trabalho normalmente se estende até as 9 da noite. Uma de suas obsessões é a pontualidade, tanto que ordenou a instalação de um relógio de parede no gabinete, com fundo branco e números pretos para facilitar a visualização e controlar o horário das reuniões.
Ela fez questão de acompanhar as negociações com os peemedebistas, mas manteve certo distanciamento. Quem assumiu a linha de frente foram Palocci, conselheiro-mor, e Luiz Sérgio Nóbrega, das Relações Institucionais. Para conter os ímpetos, decidiu-se que a maior parte dos cargos de segundo escalão só será negociada após a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, em fevereiro. O PT quer eleger Marco Maia, do Rio Grande do Sul, para a presidência da Câmara. O PMDB pretende manter José Sarney à frente do Senado. Dilma fez questão, porém, de nomear Wagner Pinheiro, ex-presidente do fundo de pensão Petros, para a presidência dos Correios (reportagem à pág. 38), sinal de que pretende ser pouco tolerante com desvios éticos. Os Correios foram o principal foco de denúncias de corrupção no governo Lula e eram controlados pelo PMDB.
Na política externa, Dilma preferiu seguir os passos de Lula. A presidente decidiu não comparecer ao seminário de Davos, na Suíca, que todo janeiro invernal reúne líderes políticos e empresariais do hemisfério norte. Sua primeira viagem internacional será à Argentina de Cristina Kirchner, para reforçar os laços do Mercosul.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails